Diálogo entre saberes, valorização da cultura popular como elemento de resistência das comunidades e construção de conhecimento a partir das contradições vividas são algumas de suas formas de atuação no território
O que une e identifica brasis tão distantes, diferentes, mas muitas vezes, e, contraditoriamente, parecidos? No sertão ou no cerrado, no campo ou na cidade, o reconhecimento de que uma vida mais humana e mais feliz é para todos e não privilégio de alguns, de que o cuidado com as águas, as sementes, a produção de alimentos, a preservação das diferentes matizes culturais que nos compõem está atrelada a preservação da vida, e fazem parte do que podemos chamar de luta do povo brasileiro por uma vida mais digna, em que os sonhos estejam presentes e se façam possíveis.
A negação de direitos humanos historicamente conquistados através de inúmeras lutas populares, a desconstrução do Estado brasileiro e a profunda crise econômica, política, social e institucional que marcam essa virada de década, pedem que ousemos buscar soluções coletivas para desafios vividos no cotidiano.
Assim, surge a pergunta: o que podemos fazer para nos organizar e responder às vicissitudes do dia-a-dia?
É nesse cenário de gravidade para a sociedade brasileira que um grupo de educadores populares, lideranças comunitárias, pesquisadores e profissionais com experiência em gestão pública se reuniu para fundar o Instituto Candeeiro.
A organização social, fundada em 2019, propõe-se a somar esforços no desenvolvimento de projetos coletivos, comunitários e comprometidos com as potencialidades locais. Tem como ponto de partida a valorização e preservação dos referenciais materiais e imateriais, das representações que traduzem a resistência cultural e popular e que perpassam, de forma mais intensa e significativa, a vida comum e cotidiana e seus desafios.
Com ações atualmente assentadas nos estados de Pernambuco e Distrito Federal (conheça nossos projetos), o Instituto Candeeiro vem atuando com comunidades tradicionais, localizadas na transição do sertão para o agreste pernambucano e também com comunidades urbanas no território do Distrito Federal, junto a escolas públicas, a mulheres em situação de vulnerabilidade e jovens em cumprimento de medidas socioeducativas.
As atividades vão do registro e valorização de tradições, plantio de mudas de árvores ancestrais e apoio à criação e manutenção de centros culturais à realização de oficinas de saberes guiadas pelos fundamentos da educação popular, no intuito de contribuir com a construção de conhecimentos a partir dos territórios educativos e o fortalecimento de comunidades de aprendizagens, fazendo a reflexão necessária sobre as contradições ancoradas na realidade das relações sociais e seus mecanismos de poder, opressão e reprodução ideológica.
“Temos urgência no fortalecimento de projetos que tenham em seu centro, a preservação da vida. Temos muito o que aprender com os povos tradicionais sobre isso. O Candeeiro propõe um encontro de saberes, entre o conhecimento popular e o conhecimento científico e se propõe a fortalecer processos comprometidos com a superação de qualquer relação de opressão e que possam construir caminhos de superação de problemas concretos vividos nos diversos territórios.” afirma Carla Dozzi, integrante do Instituto Candeeiro.
É sentando em Rodas de Conversa, que o Candeeiro se acende e, a partir delas, são elencados os temas em conjunto e respeito à vida comunitária, a fim de responder questões concretas e, ao mesmo tempo – e justamente por esse meio – possam valorizar e disseminar os saberes, sabores e as diversas matizes culturais de cada território, reconhecendo as práticas e costumes das comunidades como elementos de conhecimento e ciência popular e/ou tradicional, que podem dinamizar e enriquecer os processos educativos e pedagógicos, possibilitando que se vislumbrem perspectivas mais solidárias para o futuro de nossa sociedade, a partir de uma formação cidadã baseada justamente nos valores da cultura como elemento central, que amalgama e potencializa uma resistência vital.
“Convidamos pessoas e comunidades a se conectarem com sua potência e conhecimento. O que se propõe aqui é o cultivo da autonomia e do afeto nas relações, como caminho de conexão com a vida.”, afirma
Construir pontes
Uma das ferramentas de apresentação, comunicação e construção coletiva será o site do Instituto Candeeiro. A página apresenta os principais projetos do Instituto, notícias sobre suas ações, além de divulgar a agenda de rodas de conversa e parcerias.
É possível também acessar o colaboratório do Instituto Candeeiro, área de construção contínua que abrigará repositórios de imagens e textos e conteúdos multimídia produzidos pelos projetos e pelas comunidades de atuação conjunta, área wiki, de alimentação colaborativa, a partir das iniciativas e dos desafios que se apresentarem para execução dos projetos e para contribuição recíproca com as comunidades.
Para desenvolvimento e disponibilização das ferramentas e repositórios necessários para sistematização e compartilhamento dos conhecimentos produzidos, o Candeeiro atua em rede com dois de seus principais parceiros: a Rede Mocambos e o CulturaEduca.
“O Candeeiro alumia sempre onde o povo está,
No campo, na cidade,
Nas florestas, em todo lugar,
Vem, vem com a gente caminhar.
Instituto Candeeiro
Um luzeiro que se chega
Feito a chuva no sertão,
Nesse tempo de agonia popular,
o andeeiro nos apóia com alegria,
Sinceridade e abundância,
queremos construir”.
[ por Luiza Cavalcante ]