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Plantar água, construir solidariedades: campanha de financiamento coletivo na Aldeia Malhador

Em meio à atual pandemia e aos recentes ataques à natureza e ao meio ambiente no Brasil, o mês de outubro de 2020 rebenta em contrapontos de esperança: foi lançada no início do mês a campanha “Plantando Água”, do Povo Indígena Kapinawá (Buíque – PE), fertilizando iniciativas assentadas na solidariedade e na reciprocidade para o fortalecimento de comunidades tradicionais indígenas do sertão pernambucano.

A iniciativa é uma campanha de financiamento coletivo e objetiva a arrecadação de fundos para construção de novas possibilidades de manejo dos recursos hídricos na Aldeia Malhador (T.I. Kapinawá). O território tradicional do povo localiza-se no Sertão do Moxotó pernambucano, região na qual a convivência com o semiárido e com o regime escasso de chuvas é um aspecto fundante dos modos de vida locais, fazendo do acesso à água uma questão de primeira hora para aquelas comunidades indígenas. Além dessas características biogeológicas do território, o atual contexto pandêmico em que vivemos vem encarecendo consideravelmente os serviços de abastecimento de água externos, incidindo violentamente sobre a garantia do direito à água no território Kapinawá.

 

Plantar água: manejos e conhecimentos tradicionais indígenas

Foi na convivência com o semiárido e com a necessidade de construção de alternativas a curto e médio prazo para a questão da água no território que foi construído pela comunidade o desejo de construção de um sistema de captação e armazenamento da água da chuva na serra da Aldeia Malhador, área de lajedos e afloramentos rochosos, com a instalação de barreiras de contenção de água, tanques de decantação e cisternas.

Há que se destacar, contudo, que a água, nessa comunidade, se planta. O manejo dos recursos hídricos da Caatinga se faz sobre práticas e saberes ancestrais indígenas ligados à preservação de caldeirões e cacimbas e à construção de barreiros, por exemplo, assentados numa relação de reciprocidade com a natureza e com o sagrado – longe das lógicas da financeirização e superexploração do capitalismo ocidental, portanto. Plantar água, nesse contexto, é construir possibilidades de usos sustentáveis desse bem segundo os conhecimentos, os fazeres e a cosmovisão tradicionais indígena, em atenção à fauna, à flora e à topografia da região, cultivando a vida e valorizando a biodiversidade do território.

 

A campanha

Idealizada, planejada e executada de maneira autogestionada pela própria comunidade da Aldeia Malhador, a “Plantando Água” é sonho e ação coletiva levada a cabo por professores(as) indígenas, lideranças comunitárias, agricultores(as), jovens e crianças da aldeia. O financiamento construído de maneira coletiva, assim, constrói possibilidades concretas de continuidade dessa ação e se destina a cobertura de custos de aquisição material e de serviços para o projeto. A iniciativa, ademais, conta com a colaboração de parceiros(as) espalhados(as) por todo o Brasil que vêm contribuindo a favor da materialização desse projeto de plantio da água. O Instituto Candeeiro, assim, se soma a esse sonho de partilha e colabora com esse cultivo da terra, da água e das relações para o fortalecimento de formas de organização comunitárias e para um projeto de manejo hídrico sustentável.

A campanha avança! As contribuições financeiras podem ser realizadas até o dia 30/11/20 através da página do projeto. Contribua você também! Participe! Divulgue!

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